Coluna do Carlos Cerqueira – Antroposofia e saúde

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Traduzindo a palavra antroposofia, temos antropos (ser humano) e sofia (conhecimento, sabedoria), ou seja, conhecimento do ser humano. Provavelmente seu criador acreditava nos escritos da antiga Grécia: “conhece a ti mesmo e conhecerás a Deus e o universo”. A antroposofia tem como base a busca da conexão entre o homem, a natureza e o sagrado, presente em todos os aspectos do cotidiano humano.

Apesar disso, esse movimento não é uma religião. Criada no início do século XX pelo estudioso austríaco Rudolf Steiner (1961-1925), é uma ciência humanística que vem sendo aplicada nas mais diversas áreas como agricultura, farmácia, socialização comunitária, economia, medicina e educação (nas escolas primárias existentes, as crianças se envolvem com atividades realmente infantis e a alfabetização só começa a ocorrer quando completa 7 anos, fugindo dos ditames de forçar uma aprendizagem precoce).

Dentro da agricultura, as culturas vegetais são tratadas com compostos biodinâmicos, que envolvem técnicas homeopáticas (*), a não utilização de aditivos, inseticidas ou adubos químicos. Há todo um complexo esquema de cultivo em que se respeita os ciclos naturais da terra, o caráter energético e vital dos alimentos e até as influências dos períodos lunares. Trabalhos científicos de Spiess (1994), Goldstein (2000), e colaboradores, demonstraram aumento de 22% na produção de cenouras quando a semeadura fora realizada 3 dias antes da lua cheia, aumento de 15% no plantio 1 dia antes da lua cheia e diminuição de 17% quando na minguante.

Em relação às plantas medicinais utilizadas há a exigência de serem provenientes de ambientes propícios ao seu pleno desenvolvimento, distantes de poluentes ou produtos agroquímicos sintéticos, cultivadas com métodos ecologicamente recomendáveis (agricultura orgânica e biológico-dinâmica) ou, mais raramente, uso de coleta selvagem supervisionada.

Juntamente com extratos dinamizados (*) ou não de plantas medicinais há também os provenientes de origem mineral e animal, dentro de diversas formas envolvendo processos de purificação como torrefação, carbonização, incineração e ainda sublimação de metais. A psicofisiologia do órgão doente também é levada em consideração dentro de um modelo orientador do sistema doente, faz-se uma relação entre órgãos e emoções, por exemplo, relacionando a raiva com o fígado, vesícula e o mineral ferro, cuja ausência sinaliza anemia, uma possível inatividade do indivíduo depois de uma atividade exagerada provocada pela raiva/estresse.

No Brasil existe o Sirimim Aprimoramento da Arte Farmacêutica – 1998 – e a Associação Brasileira de Farmácia Antroposófica (FARMANTROPO) – 2005 – ambos dirigidos pelos farmacêuticos Marilda e Flávio Milanese. Segundo eles a “farmácia antroposófica não se preocupa apenas com a transformação e aperfeiçoamento dos processos farmacêuticos, mas com a metamorfose do próprio ser humano que ao participar desse trabalho vai se empenhando em transformar algo de si próprio, desejando que algo dessa transformação também possa ter participação na qualidade do medicamento e consequentemente no alívio dos pacientes, inclusive na transformação moral dos seres humanos que estão doentes.”

Além de medicamentos, o médico antroposófico também prescreve orientações sobre estilo de vida, como alimentação e eliminação do estresse, abrindo possibilidade de enriquecer o trabalho num conjunto interdisciplinar, com outros profissionais, tais como massagistas rítmicos, terapeutas artísticos, farmacêuticos, psicólogos, dentistas, etc.

De acordo com a Associação Brasileira de Medicina Antroposófica (ABMA) diante de uma doença, o médico antroposófico vai considerar o quadro clínico do paciente – seus sintomas, os dados de anamnese (entrevista com o paciente para um diagnóstico), o exame físico, os subsídios de exames laboratoriais ou por imagem – como qualquer outro médico. Mas também vai pesquisar como está a vitalidade desse paciente, o seu desenvolvimento emocional e como ele tem conduzido sua vida através dos anos, sua história ou autobiografia. O diagnóstico convencional pode, então, tornar-se mais profundo e individualizado.

Na zona da mata mineira, em Matias Barbosa, encontra-se o primeiro hospital brasileiro exclusivamente antroposófico. Nas palavras do seu diretor, o médico Antônio Marques, “há uma necessidade de resgatar a ciência de volta para seu verdadeiro caminho evolutivo, e para isso deve-se revitalizar o organismo social com uma nova política tendo como base o ser humano num todo e não só o seu lado material.” Valdemar Setzer, professor da Universidade de São Paulo (USP), completa: “Rudolf Steiner não queria destruir a ciência, só ampliá-la, ele sabia que não existe apenas o mundo físico e que a cura envolve também os campos bioenergéticos mais sutis do corpo humano”.

(*) ver nossa próxima matéria intitulada “Homeopatia: em busca de respostas”.

Autor: Carlos Cerqueira Magalhães – Farmacêutico, M.e em Ciências Farmacêuticas (Produtos Naturais Bioativos) pela UFJF

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