Coluna do Carlos Cerqueira – Caminho de aromas – 2ª parte

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A literaturas mais antigas da humanidade já citavam as plantas aromáticas. Na Índia, no livro dos Vedas há descrições sobre mirra, canela, cardamomo, coentro, capim-limão, vetiver e o gengibre que também é citado há cerca de 4500 anos, no clássico chinês Nei Jing, o Livro do Imperador Amarelo, para utilização de preparações medicinais.

No Egito, o Papiro de Ebers, um manuscrito datando de 1500 a 2000 a.C. descreve a resina aromática da mirra (Commiphora myrra) para tratamentos inflamatórios. Há ainda registros do uso nas mumificações de cadáveres e na proteção dos papiros contra pragas, juntamente com cedro e manjerição. Os gregos Hipócrates (360 a.C), pai da medicina ocidental; e o médico Discorides (50-70 d.C), já falavam sobre as propriedades terapêuticas das águas destiladas aromáticas.

O que dá aroma a uma planta são uma classe de substâncias conhecidas como terpenos, os quais são os componentes dos óleos essenciais ou voláteis, essenciais naturais, possíveis de serem destiladas e extraídas das plantas.

Alguns exemplos são o mirceno no capim-limão (Cymbopogon citratus), o linalol na lavanda (Lavandula officinalis) responsáveis por atividades relaxantes e anti-estresse; o a-bisabolol da camomila (Matricaria recutita) e o b-cariofileno na copaíba (Copaifera officinalis) com comprovada ação antibacteriana. Efeitos antimicrobianos foram encontrados para os arilpropanoides, outra classe de substâncias menos comum que também compõem óleos essenciais como o eugenol encontrado no cravo (Syzygium aromaticum) e na canela (Cinamomum zeylanicum).

A ISO (International Standard Organization) define os óleos essenciais como sendo os produtos obtidos de partes de plantas por meio da destilação por arraste de vapor d’água, bem como os produtos obtidos por prensagem dos pericarpos de frutos cítricos.

Apesar de levarem o nome de óleos, não têm nada a ver com gorduras ou ácidos graxos, ao contrário destes, eles evaporam totalmente no corpo, daí o fato de sentirmos seus perfumes, quase sempre agradáveis e tão potentes, que tomam conta do ambiente onde se encontram.

A relação das propriedades farmacológicas destes compostos é infindável como descreveu SIMÕES et al (2004): ação carminativa (digestiva); anti-hiperglicêmica (diabetes); antiespasmódica (cólicas); analgésicas; cardiotônicas; anti-inflamatória; revulsiva (aumentam a microcirculação da pele); secretolítica (tosses); agindo ainda sobre o sistema nervoso central como estimulantes ou relaxantes dependendo da composição.

As capacidades antissépticas e antimicrobianas fazem deles ideais para purificar o ar, o corpo na higiene pessoal e até como inseticidas no estoque de grãos e preservação de alimentos crús ou processados. Inibem o crescimento de bactérias, fungos, vírus e protozoários, produzindo menor probabilidade de resistência, além do que alguns óleos essenciais demonstraram clara capacidade antimutagênica e anticarcinogênica.

Trabalhos científicos como o de Schmitt et al (2010) perceberam uma maior permeabilidade dos componentes através da pele humana, quando utilizando óleo essencial in natura do que quando utilizando seus princípios ativos isolados, sugerindo dessa forma uma interação cooperativa entre os componentes.

Um único óleo pode ser utilizado em variadas modalidades para diferentes finalidades, como é o caso do gerânio, o qual conforme relatado por Jalali-Heravi et al (2006), é indicado para tratamento de problemas da pele, respiratórios e hormonais.

Como todo produto com princípios ativos ou medicinais, os óleos essenciais também podem acarretar efeitos indesejáveis e devem ser utilizados corretamente, muitos deles não podendo entrar em contato direto com a pele por serem muito concentrados.

Nessas poderosas substâncias se encontram uma promissora ferramenta para o uso em enfermidades tanto agudas como crônicas, de difícil tratamento, gerando bem-estar e qualidade de vida.

Referências bibliográficas

JALALI-HERAVI, M.; ZEKAVAT, B.; SERESHTI, H. Characterization of essencial oil components of Iranian geranium oil using gas chromatography-mass spectrometry combined with chemometric resolution techiniques. Journal of Chromatography A, n. 1114, p. 154-163, 2006.

SIMÕES, C. M. O. et al. Farmacognosia: da planta ao medicamento. 5.ed., Porto Alegre / Florianópolis: Editora UFRGS / Editora UFSC, 1102p., 2003.

SCHMITT, S. et al. Variation of in vitro human skin permeation of rose oil between different application sites. Forsch. Komplementärmed. v.17, p. 126-131, 2010.

Autor: Carlos Cerqueira Magalhães – Farmacêutico, M.e em Ciências Farmacêuticas (Produtos Naturais Bioativos) pela UFJF

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