Coluna do Carlos Cerqueira – O remédio das ressacas

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Fim de ano, festas, comemorações e as vezes um pouco de exagero nas bebidas alcóolicas. No dia seguinte alguns recorrem a uma boa dose de boldo para desintoxicar o fígado. O boldo talvez seja a planta mais utilizada, pela população, para aliviar ressacas. Mas de qual boldo estamos falando?

O boldo-do-chile (Peumus boldus), que muitas pessoas acreditam conhecer, é uma árvore de até 15 m. de altura, como o próprio nome diz, nativa do Chile, e não é cultivável no Brasil, ou seja, não tem nenhuma relação botânica com as espécies de boldos produzidas por aqui, apesar de todos terem em comum propriedades úteis nos problemas do fígado, este vegetal possui contra-indicações em casos de gravidez e pode causar hemorragias internas.

Ironicamente, apesar da raridade em nosso país, o boldo-do-chile foi o único a ser citado na primeira Farmacopeia Brasileira, no ano de 1929. A ele são atribuídas propriedades diuréticas e anti-inflamatórias. Possui um alcaloide denominado boldina, o qual é o responsável pela sua atividade hepatoprotetora (protetora do fígado). Seu cheiro lembra a erva-de-santa-maria ou mastruço (Chenopodium ambrosioides).

O boldo-baiano (Vernonia condensata) tem outros nomes populares como alumã, necroton e boldo-chinês. É um arbustro grande de até 4 m. de altura, com folhas de até 12 cm de comprimento, sendo nativo da África, provavelmente trazido ao Brasil pelos escravos

Além dos conhecidos efeitos digestivos, é atribuída a ele a capacidade de diminuir o colesterol (hipercolesterolemia) em estudos realizado na Universidade de Lisboa. No livro “Plantas Medicinais do Brasil – Nativas e Exóticas”, há citações do uso na tradição popular para supressão de gases intestinais, insuficiência hepática, inflamação da vesícula e diarréias, atribuindo-lhe efeitos analgésicos, sifilítico e estimulante do apetite. É bastante comum na região.

O falso-boldo (Plectranthus barbatus) é chamado ainda de boldo-brasileiro, boldo-nacional ou simplesmente boldo, apesar desses nomes populares e de ser muito encontrado no Brasil, é originário da Índia, provavelmente trazido para cá no período colonial, se adaptando muito bem. É um sub-arbustro de aproximadamente 1,5 m. de altura com folhas ovaladas e dentadas de sabor muito amargo medindo entre 5 a 8 cm. Na época de floração, lança pendões de flores azul-roxeadas muito bonitas.

Testes na fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) confirmaram sua capacidade de diminuir o excesso de suco gástrico e acidez. Um artigo publicado no Indian Journal of Experimental Biology mencionou, além de uma ação antiviral, também antitumoral.

Os boldos deste gênero, a exemplo do boldo-miúdo ou boldinho (Plectranthus ornatus ou Plectranthus neochilus), são ricos em óleos essenciais, o que lhes concede o forte aroma característico que possuem. Seus óleos contêm principalmente o terpeno cariofileno, substância encontrada no óleo de copaíba e com comprovada ação na inibição de fungos, além de efeitos anticancerígenos e anti-inflamatórios, de acordo com uma pesquisa publicada no Journal of Natural Products.

Ambos muito encontrados na nossa região, o boldo-miúdo é muito parecido com o falso-boldo, se diferindo deste, praticamente pelo tamanho de suas folhas, que são bem menores, tendo similaridade genética de cerca de 80%, o que justifica a semelhança tanto na aparência quanto nas indicações terapêuticas.

Vale ressaltar que, particularmente falando, em nossas experiências, o boldo-miúdo tem sido o que tem demonstrado melhores resultados para tratamentos digestivos, podendo-se utilizá-lo na forma de decocção, na proporção de uma colher de sopa das folhas frescas para uma xícara de chá, assim que iniciar a fervura, desligar, manter tampado durante 20 minutos e depois ingerir.

Autor: Carlos Cerqueira Magalhães – Farmacêutico, M.e em Ciências Farmacêuticas (Produtos Naturais Bioativos) pela UFJF

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