Coluna do Carlos Cerqueira – O tempero da saúde

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Praticamente todas as ervas usadas como tempero são também medicinais. Entre elas, o alho (allium sativum) figura soberano, não só por ser o mais usado, mas também por ser um dos maiores possuidores de propriedades terapêuticas.

O vegetal é citado por nomes famosos da Antiguidade: Virgílio falava sobre ser útil aos camponeses para aumentar e refazer as forças debilitadas; Galeno o chamou de antídoto dos lavradores; Raspail, de alcânfora dos pobres; Plutarco mencionou os sacerdotes egípcios que o ingeriam com certa repugnância, mas acreditavam que era necessário a fim de se purificar, sendo contra-indicado aos que faziam votos de castidade. Essas e outras histórias são contadas no livro “Plantas Sagradas”.

O autor, o médico alemão Arnold Krumm Heller, se ocupou bastante tempo a estudar os efeitos desta planta, e cita uma experiência que teve com um famoso estudioso da sífilis, dr. Wassemann, na qual expuseram a indesejável bactéria causadora desta doença a várias substâncias, sem maiores resultados, porém, em contato com o alho, conseguiram eliminá-la.

O saudoso farmacêutico dr. José de Abreu, professor da Universidade Federal do Ceará, relatou que numerosas pesquisas farmacológicas demonstraram propriedades antitrombótica, antifúngica, antioxidante, hepatoprotetora, cardioprotetora, hipoglicemiante, antitumoral, particularmente em casos de câncer de cólon, também há registros de atividades analgésicas e anti-virais, particularmente contra herpes, além de sua ação no controle de colesterol e triglicérides e inibição da agregação plaquetária, comprovando sua propriedade de proteção contra trombose.

Um artigo publicado no Journal of the National Cancer Institute, concluiu que o consumo de alho, cebola e outros vegetais do gênero, reduziu o risco de câncer de próstata, mesmo em casos mais avançados [1].

A Faculdade de Saúde da Universidade de Brasília (UnB) em parceria com a Embrapa confirmou o efeito da alicina, princípio ativo responsável pela redução do colesterol e prevenção do infarto agudo do miocárdio.

Os que sofrem de hipertensão arterial, encontram no alho um excelente remédio, sendo por isso, contra-indicado aos que sofrem dos sintomas opostos, ou seja, pressão baixa. Também é indicado no tratamento de varizes.

Um artigo intitulado “Including garlic in the diet may help lower blood glucose, cholesterol, and triglycerides” pesquisou os efeitos do alho cru nos níveis de glicose, colesterol e triglicerídeos em ratos, constatando um intenso efeito na redução dos parâmetros em questão [2]. É importante salientar que pesquisas como a financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa – FAPESP, demonstraram que a fritura chega a reduzir 90% da alicina [3].

Ressaltamos aqui, que o chá de ½ dente pequeno de alho com uma fatia de cebola trouxe excelentes resultados contra hipercolesterolemia em nossos atendimentos.

O óleo essencial do bulbo contém cerca de 53 constituinte instáveis, quase todos derivados orgânicos do enxofre, principalmente, ajoeno, alicina e aliina que se degradam mais lentamente em meio ácido, o que explica o melhor efeito do alho, quando associado a sucos de frutas ácidas como o limão. Estes dois – alho e limão – juntamente com mel têm sido muito indicados em nossos trabalhos com excelentes resultados contra gripe.

Mesmo sozinho, o alho se mostrou eficiente no combate a resfriados, de acordo com um estudo publicado na revista Clinical Nutrition, onde foram avaliados 120 indivíduos que receberam 2,5g por dia, do extrato em cápsula, reduzindo 60% do tempo da presença dos sintomas [4].

Para os que nutrem uma aversão ao odor deste bulbo medicinal, o escritor Alfonso Balbach deixa a receita: “o problema do cheiro e gosto do alho pode, todavia, ser contornado…o gosto pode ser eliminado tomando-se algumas gotas do azeite da raiz de angélica e o cheiro pode ser combatido comendo-se salsa crua.” Para esse objetivo também recomenda a mastigação de nozes, ou ainda, o suco de limão alguns minutos depois.

[1] Hsing AW, Chokkalingam AP, Gao YT, Madigan MP, Deng J, Gridley G, Fraumeni JF. Allium vegetables and risk of prostate cancer: a population-based study. J. Natl. Cancer Inst.;94(21), 2002.
[2] Thomson M, Al-Qattan KK, Bordia T, Ali, M. Including garlic in the diet may help lower blood glucose, cholesterol, and triglycerides. J. Nutr.;136(3 Suppl), 2006.
[3] Disponível em: http://www.bv.fapesp.br/namidia/noticia/70219/alem-proteger-coracao-alho-ajudar/ [acesso em 17/07/2015] [4] Nantz MP, Rowe CA, Muller CE, Creasy RA, Stanilka JM, Percival SS. Supplementation with aged garlic extract improves both NK and γδ-T cell function and reduces the severity of cold and flu symptoms: A randomized, double-blind, placebo-controlled nutrition intervention. Clin Nutr. 31(3), 2012.

Autor: Carlos Cerqueira Magalhães – Farmacêutico, M.e em Ciências Farmacêuticas (Produtos Naturais Bioativos) pela UFJF

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