“Vende-se uma preta, muito moça, com cria [filhos], sabendo lavar perfeitamente e bem desembaraçada para o serviço doméstico. É sadia. O motivo da venda é não querer mais servir aos seus antigos senhores”, dizia um dos chocantes cartazes encontrados em postes da cidade e áreas da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).
Para a geógrafa Eleciania Tavares, de 40 anos, a visão desses cartazes a transportou mentalmente para o século XVI. Como mulher negra, ela sentiu profundamente a violência simbólica retratada nas mensagens. “A gente volta ao período escravocrata. Nossos corpos ainda são muito violentados, das mais diversas formas. Essa representação da mulher negra despida, como ama de leite, é extremamente impactante e nos faz vivenciar várias situações traumáticas”, relata emocionada.
A professora Lívia, de 28 anos, compartilha da sensação de incredulidade diante dos cartazes. “Quando me mostraram os cartazes, demorei um pouco para compreender do que se tratava. Fiquei bastante assustada. A sensação é de revolta. Trata-se da desumanização da mulher negra. Os cartazes retratam a mulher como uma ‘coisa’, privando-a de sua dignidade e humanidade. Eu não consigo sequer ler tudo que foi escrito ali”, relatou indignada.
A origem dos cartazes ainda é incerta, gerando especulações sobre a autoria e as motivações por trás dessa ação chocante. A reportagem buscou respostas junto à Prefeitura de Ouro Preto e à UFOP, mas até o momento não obteve retorno.
Enquanto a cidade busca entender a origem e a finalidade desses cartazes perturbadores, a sociedade se une para repudiar essa forma de racismo estrutural e reafirmar o compromisso com a luta contra qualquer tipo de discriminação e desrespeito aos direitos humanos. A reflexão sobre a história do Brasil e a importância de combater a perpetuação de estereótipos e preconceitos se torna ainda mais necessária para construirmos uma sociedade mais justa e igualitária.
Fonte: Guia Muriaé, com informações do Jornal O Tempo