A Organização Mundial da Saúde (OMS) enfatiza que a HF é um problema de saúde pública e atende aos critérios de identificação de doenças de base populacional para diagnóstico e tratamento precoces, visando reduzir a mortalidade cardiovascular na população. A identificação da hipercolesterolemia familiar é um desafio mundial, porque muitos países não dispõem de registros. A pesquisa realizada na UFMG avança ao identificar, pela primeira vez no Brasil, os possíveis casos da doença por meio dos dados da PNS.
O estudo foi publicado recentemente na Scientific Reports, uma das revistas científicas mais prestigiadas do mundo. Os autores são a residente pós-doutoral da Escola de Enfermagem da UFMG Ana Carolina Micheletti Nogueira de Sá Gomide, a professora Deborah Carvalho Malta, da Escola de Enfermagem, o mestrando Elton Junio Sady Prates, também da Escola, e dois pesquisadores da Faculdade de Medicina: a residente pós-doutoral Crizian Saar Gomes e a professora Luisa Campos Caldeira Brant.
Prevalência
Os resultados mostram que a doença afeta aproximadamente 1% dos adultos brasileiros – mais precisamente, 1 a cada 104 adultos apresenta a possibilidade de ter HF, índice superior aos dos Estados Unidos (com prevalência de 0,4%), da China (0,3%) e da França (0,85%). “Nesse estudo, a possibilidade de ter hipercolesterolemia familiar foi detectada por níveis LDL colesterol muito altos no exame de sangue e pelo autorrelato de doença do coração prematura ou AVC. Acreditamos que, se tivéssemos também os testes genéticos, esses números poderiam ser até maiores. Além disso, segundo a Organização Mundial de Saúde, a doença é globalmente subdiagnosticada e subtratada. No Brasil, temos poucas informações da prevalência da HF na população, e pode haver lugares no país em que as pessoas não são diagnosticadas”, afirma Ana Carolina Micheletti.
O risco cardiovascular nas pessoas com HF aumenta consideravelmente, alerta Ana Carolina. Se não for cuidada adequadamente, essa condição pode provocar a morte de pessoas com menos de 50 anos ou sequelas gravíssimas. “Identificar as pessoas com HF é essencial para o cuidado efetivo do grupo familiar. Com base em cada caso diagnosticado da doença, a chance de que outras pessoas da família também sejam diagnosticadas é de quase 50% para parentes de primeiro grau, de quase 25% em segundo grau e pode também estar presente nos parentes de terceiro grau”, estima a pesquisadora.
Os resultados também demonstraram que a prevalência de possíveis casos de HF é maior entre mulheres, em adultos entre 45 e 59 anos e em pessoas da raça/cor da pele branca, com menor escolaridade e com diabetes, hipertensão e colesterol total acima de 310 mg/dL. “A doença se associa com determinantes sociais, como escolaridade, gênero e com doenças crônicas. Isso é preocupante, pois as doenças crônicas como hipertensão, diabetes e dislipidemias – como o colesterol total acima de 310 mg/dL – aumentam ainda mais o risco de doença cardiovascular na presença da HF. Nossos achados estão consonantes com pesquisas de outros países que revelaram que doença tem um peso diferente nas mulheres, e pessoas com baixa escolaridade podem não ter conhecimento suficiente sobre os riscos inerentes e aderir menos ao tratamento”, explica a residente pós-doutoral.
Segundo Ana Carolina, os resultados desse estudo são muito importantes porque ele focaliza uma doença sobre a qual se tem pouca informação. “Esses dados são muito valiosos para conhecer os grupos mais afetados por localidade, sexo, cor e escolaridade. Quando traçamos esse panorama, reforçamos a importância de se adotar um programa de rastreamento genético no país, uma vez que parentes de primeiro, segundo e terceiro grau podem ter a doença e necessitam de aconselhamento visando à prevenção”, argumenta.
O estudo é decorrente da tese de doutorado Parâmetros lipídicos na população adulta brasileira: intervalos de referência, prevalência de hipercolesterolemia familiar e fatores associados, defendida pela própria Ana Carolina no Programa de Pós-graduação em Enfermagem da UFMG, sob a orientação da professora Deborah Malta. A pesquisa foi financiada pela Capes e pelo Fundo Nacional de Saúde.
Fonte: UFMG