Setembro Roxo: câncer de pâncreas é um dos mais letais, no entanto, a maioria dos casos podem ser evitados

Tumor maligno, lembrado ao longo do mês de setembro, está ligado a fatores não hereditários, atingindo homens e mulheres com sinais e sintomas não detectáveis nos estágios iniciais

“Setembro Roxo” é o mês de conscientização e prevenção ao câncer de pâncreas. Este é o tipo de câncer que representa a 13ª neoplasia mais frequente entre os homens e a 9ª mais frequente entre as mulheres.

Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), até o final de 2023 teremos 10.980 novos casos desse tipo de câncer no Brasil. Isso representa 2% do total de casos de neoplasias e 4% do total de mortes causadas pelo câncer, sendo considerado o tipo mais letal, uma vez que as chances de sobrevivência após cinco anos são de 11,5%. A boa notícia é que um número significativo dos casos pode ser evitado.

O médico oncologista do Vera Cruz Hospital, David Pinheiro Cunha, explica que o pâncreas é dividido em três partes: cabeça (lado direito do órgão), corpo (centro) e cauda (lado esquerdo). “Praticamente 75% dos casos acomete a cabeça do pâncreas e o subtipo mais frequente é o adenocarcinoma (que se origina no tecido glandular) representa por volta de 80% dos cânceres de pâncreas”, diz.

Segundo o médico, as causas estão relacionadas a dois fatores, sendo ambientais (tabagismo, etilismo, má alimentação e obesidade) e hereditárias ou genéticas. “Em 90% dos casos está relacionado com idade avançada e causas ambientais, apenas 10% relacionados às causas hereditárias, que são algumas síndromes específicas ou mutações. À medida que a população envelhece, esse tipo de câncer se torna mais comum, acometendo principalmente pessoas a partir dos 60 anos”, explica.

Sendo assim, a prevenção é um caminho a ser seguido para evitar um futuro diagnóstico positivo. O médico chama a atenção para alguns fatores de risco. “O tabagismo, segundo alguns estudos, gera um risco até três vezes maior de ter um câncer de pâncreas se comparado com pessoas que não fumam. Outro fator de risco está relacionado com estilo de vida, como hábitos alimentares. Dietas com alto consumo de carne vermelha, embutidos, o excesso de bebida alcoólica, o baixo consumo de frutas e vegetais contribuem para aumentar as chances de desenvolver a doença. E também a obesidade”, salienta.

Outro grupo que precisa redobrar atenção é das pessoas que têm pancreatite crônica ou diabetes tipo 2, que passaram por cirurgias de úlcera no estômago ou duodeno, que sofreram retirada de vesícula biliar, bem como com histórico familiar de câncer. “Esse grupo deve se submeter a acompanhamento médico periódicos, pois tem mais chances de desenvolver a doença”, explica.

De acordo com o médico, os sintomas do câncer de pâncreas podem variar conforme a região em que está instalado. No entanto, os sintomas mais frequentes incluem perda de apetite, perda de peso progressiva, sensação de fraqueza, diarreia, tontura. Em estágios mais avançados, pode causar dor, que aumenta de intensidade com o tempo. Essa dor pode irradiar para a região das costas e, especificamente quando localizado na cabeça do pâncreas, causar icterícia, cursando com coloração amarelada à pele.

Diagnóstico

“Geralmente na fase inicial esse tumor é assintomático e os sintomas aparecem em uma fase mais avançada. Por isso, é que a confirmação do diagnóstico, na maioria das vezes, ocorre em fase tardia, reduzindo as chances de cura”, salienta. “Isso torna o diagnóstico um grande desafio. Por isso, requer que cada sintoma seja avaliado e, em casos de persistência, a possibilidade da doença seja levada em consideração”.

Inicialmente é feita uma avaliação clínica, seguida de exames de sangue. O próximo passo é a realização de tomografia ou ressonância nuclear magnética da região do abdómen. Porém, é preciso realizar biópsia do tecido para a confirmação do diagnóstico.

Tratamento

O tratamento do câncer de pâncreas depende muito da fase em que ocorre o diagnóstico. “Na fase precoce, na qual não está com volume grande, o tratamento indicado é a cirurgia, que tem sessões de quimioterapia como complemento. Em uma fase mais avançada, a indicação é iniciar o tratamento com quimioterapia, no intuito de reduzir o tumor e torná-lo ressecável, em seguida é feita a cirurgia”, especifica. Em situações mais graves, quando o câncer já acometeu outros órgãos, além do pâncreas, a cirurgia deixa de ser uma opção e o tratamento engloba somente a quimioterapia.

O médico explica que nos últimos anos, houve diversas melhorias em termos de procedimentos cirúrgicos, reduzindo complicações decorrentes da remoção do pâncreas para o paciente. No entanto, ele considera que ainda há um longo caminho a ser percorrido. “Quando comparamos com alguns outros tumores como câncer de pulmão, melanoma e câncer de intestino, o câncer de pâncreas não teve grandes melhorias no que se refere tratamento, tendo ainda algumas limitações. Então, infelizmente, apesar dos avanços que tivemos nos últimos anos, ele continua sendo um tumor de alta mortalidade, tanto pelo diagnóstico tardio, como pela agressividade dessa neoplasia”, destaca.

Com este cenário, o especialista reforça que prevenir continua sendo o melhor remédio. “Temos que ressaltar a importância da prevenção primária. O que significa isso? Evitar a exposição a fatores que aumentem o risco de evoluir com esse tipo de câncer. A gente sabe que não consegue evitar o envelhecimento, mas a gente sabe que ter um estilo de vida saudável, isso sim, propicia a redução de risco para a maioria dos tumores e o câncer de pâncreas não é diferente”, conclui.

Fonte: WGO Comunicação