Belisário é destaque em programa do jornalista Fernando Gabeira na Globo News

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Belisário, distrito de Muriaé, foi destaque do programa do jornalista Fernando Gabeira exibido pelo canal Globo News no último domingo (9). Poderia ser pelas suas belezas naturais, mas por um fato policial que chamou a atenção de todo país.

Em Belisário, Fernando Gabeira conversou com o frei Gilberto Teixeira e pequenos agricultores. “O pequeno distrito de Belisário, com apenas dois mil habitantes, está em luta contra um projeto de mineração de bauxita na importante Serra do Brigadeira. Seria um fato normal, se não houvesse nessa luta um acontecimento que a transformou em assunto nacional. Um padre que defende a causa foi ameaçado de morte. Num país que já teve Chico Mendes e a Irmã Dorothy, ambos com a morte anunciada, foi preciso um esquema especial para proteger o padre”, iniciou o jornalista na abertura do programa.

No programa, o frei Gilberto falou sobre o dia em que foi ameaçado de morte. “Há seis anos teve início um movimento de resistência a chegada da mineradora devido a estarmos em uma área de preservação. Estamos em uma área de preservação, no entorno do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro. Na região temos muita nascentes e a maioria dos moradores vivem de agricultura familiar, sendo que sabemos que não dá para conciliar o trabalho de agricultura familiar com mineração. Já vimos em casos de cidades próximas que a água diminui e até acaba desaparecendo após a extração da bauxita”, disse, destacando ainda o trabalho da Polícia Civil que fez o retrato falado do criminoso.

O frei Gilberto também falou sobre a ameaça que recebeu. “Após celebrar a missa dominical, fui atender alguns paroquianos. Ao final, quando estava indo embora, lembrei que tinha esquecido um papel na casa paroquial. Ao destrancar a porta da sala, fui surpreendido por um homem que chegou me empurrando. Ele me mostrou uma arma, disse que não era para me assustar, que era só aviso. Ele então passou a dizer que eu não deveria falar mais sobre essa questão de mineração, disse que eu estava falando demais e que tinha conhecimento de todos meus passos”, relatou.

O programa frustou vários moradores de Belisário, que o consideraram tendencioso. Renato Sigiliano, presidente do Instituto Rio Muriaé, é descrente da atividade mineradora no entorno do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro como geradora de desenvolvimento econômico e social sustentável. Em nota enviada ao Guia Muriaé, ele questionou as intenções do programa. “Eu fiquei com a impressão de que o programa acentuou o lado que justifica a mineração, como se o Gabeira tivesse agido como assessor de imprensa da mineradora”, disse.

Confira a nota na íntegra:

O que é isto, brigadeiro?

As ameaças feitas ao Frei Gilberto, padre de Belisário, por conta de sua luta contra a instalação de atividade mineradora no entorno do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro, serviram de mote para a vinda de Fernando Gabeira à região. O assunto foi tema do programa do jornalista na GloboNews, exibido em primeira mão no domingo próximo passado, às 18h30. Depois de apontar rapidamente a gravidade das ameaças sofridas pelo Frei Gilberto, com entrevista ao policial chefe responsável pela proteção a Frei Gilberto e o retrato falado do homem que o ameaçou, Gabeira mostrou um pouco das preocupações dos moradores e autoridades ambientais da região com a possibilidade da instalação da mineração. O receio de uns é que a extração da bauxita diminuirá ainda mais os recursos hídricos na região, outrora um paraíso das águas; e de outros, a repetição da tragédia protagonizada pela Samarco em Mariana e toda a Bacia do Rio Doce, lugar comum na atividade exploradora de minério.

A seguir, o jornalista dedicou-se a mostrar o outro lado, a “parte boa da mineradora”, apontando projetos bem sucedido de lavra e pós extração do minério. Entrevistou um ex-prefeito de Itamarati de Minas, que foi só elogio à mineradora, como geradora de emprego e renda. “É raspador de caçamba, fazedor de cerca…”, disse o político, desejando o retorno de mineradoras de todos os portes ao município para exaurir as jazidas estimadas em 80 mil toneladas. Também entrevistou um professor da Universidade Federal de Viçosa, responsável pelos projetos de recuperação de áreas após os imensos impactos causados pela extração do minério. Tudo muito arrumadinho e justificado. Inclusive o gerente da unidade explicando que a mineradora agora faz parte do Conselho do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro com o “objetivo principal” de levar o conhecimento desenvolvido na reabilitação ambiental para “dentro do parque”. Aqui devo dizer que tenho experiência suficiente para desconfiar destas “boas intenções”.

No bom jornalismo, só no bom, o certo é sempre mostrar os dois ou mais lados de um fato, como fez Gabeira. Mas fiquei, e várias pessoas que conheço ficaram, com a impressão de que o programa acentuou o lado que justifica a mineração, como se o Gabeira tivesse agido como assessor de imprensa da mineradora. Por sua atuação ambiental, já foi deputado federal e até candidato a presidente da República pelo Partido Verde (PV), esperava-se que Gabeira – no mínimo – trouxesse alguma luz sobre os reais impactos ambientais da mineradora na região, tipo assoreamento dos rios e contaminação das águas. São estes impactos que movem a luta do Frei Gilberto, ameaçado de morte. Também pessoas que não receberam indenização após o rompimento de uma barragem da mineração em 2007, vítimas do descaso que sempre impera quando as coisas não “dão tão certo” como o planejado e anunciado.

Questões importantes que poderiam ter sido abordadas no programa e que passaram ao largo. A primeira é sobre a definição de “entorno” do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro. A mineradora não pode exercer suas atividades dentro do parque, isto parece óbvio. Mas a luta é para que ela respeite o entorno, faixa de 15 quilômetros em linha reta a partir dos limites do parque. Sim, porque toda atividade exercida nesta área impacta diretamente o parque como um todo. Outra coisa, se a ação da mineradora na extração da bauxita é pontual, como afirmado pelo gerente, e no topo dos morros, como as máquinas fazem pra chegar lá em cima? Qual a quantidade de água que a mineradora exige para lavar uma tonelada de bauxita, por exemplo? Nunca devemos esquecer que os topos de morros são importantes caixas d’água que alimentam as nascentes, em baixo. Feitas as contas, vamos ver que vamos trocar água por bauxita. Assim como já estamos trocando água por braquiária, água por eucalipto, água por boi, água por pesticidas e defensivos agrícolas. Outra questão crucial, quem vai beber bauxita quando a água acabar? Quem vai comer o dinheiro gerado pela extração da bauxita? Talvez o Gabeira volte um dia pra tentar nos explicar. Sim, é possível desenvolver a região econômica e socialmente sem abrir as pernas para a mineração. Por último, não acredite em quem recebe dinheiro da mineradora para falar bem da mineração, porque eles estão simplesmente fazendo jus ao salário.

A reportagem completa do Fernando Gabeira sobre Belisário pode ser assistida aqui

Fonte: Guia Muriaé

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