Coluna do Carlos Cerqueira – A Melodia da Saúde

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Não é apenas introduzindo medicamentos que se pode levar à saúde. Todo medicamento é um remédio mas nem todo remédio é um medicamento. Medicamento é uma preparação farmacêutica, já remédio pode ser qualquer fonte que alivie ou melhore um sintoma, a música é um exemplo.

A música acompanha o homem desde a Antiguidade, Pitágoras (VI a.C.) afirmava que ela e a matemática poderiam fornecer a chave para os segredos do universo e que até o movimento dos planetas teria sua melodia, daí o termo “sinfonia das esferas”.




O funcionamento de nosso próprio organismo tem um ritmo, a reprodução do som das batidas do coração é encontrada em muitas canções. Algumas músicas nos deixam alegres, outras tristes, nos induzem ao movimento ou ao sono, o fato é que exercem uma influência direta sobre nossa psiquê. Com base nisto, se assemelhando aos povos da Antiguidade (Índia, Egito, China, etc, davam especial atenção a música), surge no séc. XX, o termo musicoterapia, depois de médicos e enfermeiros perceberem grandes melhoras nos ânimos dos soldados internados, ouvindo concertos musicais de voluntários.

Segundo definição da Canadian Association for Music Therapy, “musicoterapia é a utilização da música para auxiliar a integração física, psicológica e emocional do indivíduo e para o tratamento de doenças ou deficiências”. O 1º curso de graduação, no Brasil, aconteceu em 1972, no Conservatório Brasileiro de Música. De lá pra cá, já são 127 cursos, que vão da graduação ao doutorado.




Sendo parte da natureza humana, qualquer pessoa é susceptível de ser tratada com musicoterapia, desde crianças com deficiências mentais até pessoas que sofreram derrame cerebral. Em especial é indicada no autismo e na esquizofrenia, onde pode ser a primeira técnica de aproximação, isso porque a musicoterapia é aplicável como técnica psicológica, ou seja, explorando emoções reprimidas.

Desde 1950 já se pesquisa na França o efeito de músicas clássicas, como as refinadas frequências do compositor do séc. XVIII, Amadeus Mozart, especialmente os concertos para violino, e as sinfonias como a sonata K448. Alfred Tomatis, por exemplo, obteve resultados animadores em crianças com problemas de audição e comunicação. Ele percebeu que os pacientes acalmavam, tinham sua percepção espacial melhorada e se expressavam com maior clareza.




Um artigo publicado numa revista internacional, “Epilepsy and Behavior”, pelos pesquisadores Lahiri e Duncan em 2007, mostrou que a música de Mozart, poderia ter um efeito terapêutico na epilepsia, melhorando no controle das crises. O efeito relaxante da música de Mozart resultou ainda na redução da freqüência cardíaca em 23 indivíduos saudáveis na pesquisa intitulada “Music and heart rate variability”, realizada pelo especialista Evéquoz Escher. Esses efeitos terapêuticos são extensivos a outros compositores da mesma época, como Bach, auxiliando na melhora do desempenho em tarefas espaço-temporal.

Cada tipo de freqüência musical se enquadra melhor a determinadas necessidades pessoais. Bach e Mozart podem ajudar também no aprendizado e na memória, inclusive no tratamento da doença de Alzheimer, cujo sintomas são o esquecimento de fatos recentes. “As Walkirias”, de Wagner e “Guilherme Tell”, de Rossini, auxiliam no tratamento de pacientes com depressão. As valsas de Strauss são excelentes para gerar um maior relaxamento.




Mães que passaram a gravidez ouvindo músicas de boa qualidade, inclusive na hora do parto, serviram de referência para estudos interessantes sobre os benefícios gerados.

A música clássica parece ter um efeito benéfico ainda nas plantas, no livro “A Vida Secreta das Plantas”, Peter Tompkins relata uma curiosa pesquisa onde um grupo vegetal, exposto ao rock, crescia na direção oposta ao som, de forma retorcida e com poucas folhas; já o som dos compositores descritos acima e outros como Hadyn, Beethoven, Brahms e Vivaldi, produziam um efeito contrário, fazendo-as crescerem em sua direção, constatando-se nelas raízes mais grossas e cerca de quatro vezes mais longas.




Música e saúde tem mais em comum do que pensamos, e ambas só podem existir mediante um movimento, o qual precisa estar num ritmo harmonioso com o meio em que atua.

Autor: Carlos Cerqueira Magalhães – Farmacêutico, M.e em Ciências Farmacêuticas (Produtos Naturais Bioativos) pela UFJF




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