Fim do dever de casa? Escolas brasileiras ensaiam abolir modelo

Corrente de educadores propõe acabar com a tradicional lição fora do horário escolar, medida já adotada por algumas unidades de ensino integral

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No cenário educacional brasileiro, o dever de casa, também conhecido como “lição” ou “tema”, é uma prática enraizada nas escolas, defendida por seus defensores como uma forma de envolver os pais na formação escolar e desenvolver a autonomia e responsabilidade dos estudantes.

No entanto, uma corrente contrária está ganhando força, propondo a abolição dessa prática nas escolas, inspirada em tendências internacionais.

Embora o debate ainda esteja em estágios iniciais no Brasil, a adesão à ideia é mais comum em escolas de ensino integral, que representam apenas 15% das instituições do país. A meta do Ministro da Educação, Camilo Santana, é a universalização do modelo, e recentemente foram anunciados R$ 4 bilhões para ampliar em 1 milhão as vagas nessa modalidade nas escolas de educação básica em todo o país.

A proposta de abolir o dever de casa está alinhada com a metodologia de ensino adotada por algumas escolas brasileiras e estrangeiras, incluindo a Holanda, Índia e Inglaterra. Essas abordagens buscam uma aprendizagem significativa, levando em consideração os interesses dos estudantes, sem deixar de lado os conteúdos estabelecidos pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC).

Na Escola Lumiar, com unidades em São Paulo e Santa Catarina, os deveres de casa foram abolidos em prol de um aprendizado mais interessante e colaborativo. Os estudantes têm momentos dedicados à consolidação do conhecimento e pesquisa sobre os conteúdos abordados em sala de aula, podendo contar com o apoio dos educadores para tirar dúvidas. Além disso, as tarefas podem ser realizadas dentro e fora da sala de aula, em espaços escolhidos pelos próprios alunos, como bibliotecas ou áreas ao ar livre.

Para Graziela Miê Peres Lopes, diretora-geral da Escola Lumiar, a obrigação do dever de casa não é estimulante e pode gerar sofrimento, sendo importante associar o prazer ao processo de aprendizagem. Essa visão é compartilhada por Martha Guanaes Nogueira, autora do livro “Tarefa de casa: Uma violência consentida?” (2002), que argumenta que o dever de casa muitas vezes se torna uma atividade mecânica de repetição e sobrecarga tanto para os alunos quanto para os pais.

Outras instituições de ensino no Brasil também têm adotado uma abordagem semelhante, reservando o tempo em casa para outras vivências culturais, lúdicas, esportivas e familiares. Ana Yazbek, diretora do Espaço Ekoa, localizado na Zona Oeste de São Paulo, ressalta que o dever de casa pode gerar tensão e desgaste emocional para as crianças, que já passam oito horas diárias na escola.

Essa tendência de abolir ou minimizar os deveres de casa não é exclusiva do Brasil. Alguns distritos nos Estados Unidos, como Nevada, Iowa, Califórnia e Virgínia, reduziram a quantidade de tarefas em casa para garantir que os estudantes que precisam trabalhar ou cuidar de irmãos não sejam prejudicados. Na França, o ex-presidente François Hollande sugeriu a proibição dos deveres de casa em 2012, visando reduzir as desigualdades no acesso ao conhecimento.

Apesar das opiniões divergentes, especialistas argumentam que não há evidências de benefícios acadêmicos ou de outro tipo em impor aos alunos uma carga de trabalho adicional após o horário escolar. O educador americano Alfie Kohn, autor do livro “The Homework Myth”, destaca que o dever de casa pode resultar em frustração, exaustão, conflitos familiares e diminuição do entusiasmo pela aprendizagem.

O Ministério da Educação não se pronunciou sobre o assunto. O debate sobre o dever de casa continua em andamento, e as escolas brasileiras estão explorando abordagens alternativas para tornar o processo de aprendizagem mais envolvente e equitativo, considerando as necessidades e realidades individuais dos estudantes.

Fonte: Guia Muriaé, com informações do Globo

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