Audiência Pública mobiliza microrregião de Viçosa pela retomada do atendimento oncológico em Muriaé

Representantes políticos, ex-pacientes e gestores de saúde defendem reativação da pactuação

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A Câmara Municipal de Viçosa realizou, na noite de terça-feira (28 de maio), uma audiência pública para debater a possível retomada da pactuação entre Viçosa e os municípios da microrregião com o Hospital do Câncer de Muriaé – Fundação Cristiano Varella. A reunião, iniciada às 18h, foi proposta pelo vereador Raphael Gustavo dos Santos (PSD), autor do Requerimento nº 26/2025, com o objetivo de garantir o acesso dos pacientes oncológicos da região a um dos centros de tratamento de câncer mais estruturados do país.

Estiveram presentes no plenário representantes da Fundação Cristiano Varella, vereadores de Viçosa, secretários municipais de saúde de cidades vizinhas, ex-pacientes, familiares e membros da sociedade civil. O deputado estadual Grego da Fundação estava entre as autoridades presentes.

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O foco principal da audiência foi a reorganização do atendimento oncológico na microrregião, que desde junho de 2023 passou a ser realizado em Ponte Nova, após a habilitação do Instituto de Oncologia do Hospital Nossa Senhora das Dores, conforme a Deliberação CIB-SUS nº 4149, de 19 de abril de 2023.

Com essa mudança, serviços como quimioterapia, radioterapia, cirurgias e exames de imagem, que antes eram ofertados em Muriaé, passaram a ser referenciados exclusivamente para Ponte Nova. Segundo o vereador Raphael, essa alteração comprometeu significativamente o atendimento aos pacientes da microrregião. “É de conhecimento geral que a unidade de Ponte Nova não possui estrutura suficiente para absorver toda a demanda oncológica da nossa região. Isso tem causado atrasos, interrupções no tratamento e sofrimento para pacientes e suas famílias”, afirmou.

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O parlamentar destacou que a discussão deve ser pautada pelo princípio da dignidade humana, e não por disputas políticas ou administrativas. “Quem já teve um familiar com câncer sabe a importância de um atendimento de excelência. A diferença entre ser tratado em um hospital com estrutura completa e outro sem suporte adequado pode ser decisiva.”

Durante a audiência, Rubens José Campos Eugênio e Michele Ribeiro, representantes da Fundação Cristiano Varella, apresentaram detalhes sobre a estrutura e os serviços oferecidos pelo hospital. Rubens afirmou que o Hospital do Câncer de Muriaé é hoje o maior complexo oncológico de Minas Gerais e um dos mais relevantes da América Latina. “Temos capacidade técnica e humana para retomar o atendimento aos pacientes da microrregião de Viçosa. O hospital está de portas abertas para essa possibilidade, caso a pactuação seja restabelecida”, garantiu.

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A estrutura da Fundação impressiona pelos números: são 206 leitos hospitalares, 20 leitos de UTI, oito salas cirúrgicas, 68 poltronas para quimioterapia e quatro aceleradores lineares para radioterapia. Quase 85% dos atendimentos são realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), reforçando o caráter filantrópico da instituição, que não tem fins lucrativos. Mensalmente, o hospital realiza cerca de 900 internações, 900 cirurgias e mais de 2 mil sessões de quimioterapia e radioterapia.

Outro destaque da apresentação foi a Casa de Apoio mantida pela fundação, que oferece hospedagem gratuita para pacientes de outras cidades. A unidade disponibiliza cinco refeições diárias, assistência multiprofissional e suporte psicológico. “A Casa de Apoio é fundamental para que pacientes de cidades distantes possam permanecer em tratamento sem interrupções, mesmo diante de dificuldades financeiras”, explicou Michele Ribeiro. A manutenção dessa estrutura depende exclusivamente de doações.

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A Fundação também atua na prevenção do câncer por meio da Carreta da Prevenção, que percorre dezenas de municípios realizando exames como mamografias e incentivando o diagnóstico precoce. Em 2023, foram realizados mais de 6 mil exames em 38 cidades da região.

Ezabely Lopes, ex-paciente oncológica de 28 anos, compartilhou sua experiência enfrentando um linfoma de Hodgkin em estágio avançado. Após o diagnóstico em Viçosa, ela foi encaminhada para o serviço oncológico de Ponte Nova, onde foi informada de que seu caso não seria tratado. Com urgência, conseguiu iniciar a quimioterapia em Muriaé, 15 dias após o diagnóstico, ressaltando que essa agilidade foi essencial para sua sobrevivência. Ezabely criticou a falta de estrutura e acolhimento em Ponte Nova, onde tratamentos como a quimioterapia precisam ser feitos em outras cidades, como Ipatinga. Ela elogiou o atendimento humanizado e digno recebido no hospital de Muriaé.

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A ex-paciente também manifestou indignação diante da possível motivação política para a transferência do atendimento para Ponte Nova, ressaltando que o que está em jogo é a dignidade dos pacientes oncológicos. Finalizou afirmando que sua luta é coletiva, em defesa de todos que enfrentam a espera e a incerteza, e pediu que os pacientes sejam tratados com respeito.

A vereadora Marly Coelho (PRD) relatou a experiência de acompanhar o marido no tratamento contra o câncer no Hospital do Câncer de Muriaé, destacando a excelência e o acolhimento humanizado da instituição. Ela exemplificou a sensibilidade do hospital com um gesto simbólico que permitiu a despedida do cachorro da família. Embora sem experiência direta com o serviço oncológico de Ponte Nova, Marly manifestou preocupação com a qualidade local e defendeu a criação de um serviço de quimioterapia do Hospital de Muriaé em Viçosa, questionando a ausência desse atendimento pelo SUS na cidade, apesar de estar disponível em planos privados. Ela também pediu esclarecimentos sobre a carreta de atendimento oncológico.

Já o vereador Professor Idelmino (PCdoB) emocionou-se ao lembrar o décimo aniversário do seu diagnóstico de câncer no rim, ressaltando o impacto psicológico da doença e a importância de um tratamento humanizado. Ele elogiou o Hospital do Câncer de Muriaé e defendeu a retomada da pactuação com a fundação, reconhecendo a complexidade do processo e a necessidade de manifestação dos municípios da microrregião. Idelmino questionou sobre casos anteriores de retomada da pactuação e os critérios para a implantação de um serviço oncológico em Ubá, que possui população flutuante semelhante à de Viçosa.

O deputado estadual Grego da Fundação respondeu às perguntas dos vereadores sobre a possibilidade de Viçosa receber um braço de quimioterapia da Fundação Cristiano Varella e sobre a retomada da pactuação com o Hospital do Câncer de Muriaé. Segundo ele, a fundação só pode instalar um braço quimioterápico em regiões com pactuação vigente. Portanto, o primeiro passo é que a microrregião de Viçosa retome oficialmente a pactuação, o que também viabilizaria o retorno da carreta da prevenção ao município.

Grego explicou que a suspensão da carreta em municípios não pactuados ocorreu por diretriz da Secretaria Estadual de Saúde, mas que um requerimento aprovado recentemente na Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa de Minas Gerais busca revisar essa medida para permitir que a carreta volte a atender localidades sem pactuação.

Sobre a repactuação, o deputado esclareceu que, embora não existam precedentes de microrregiões despactuadas que tenham sido repactuadas com a fundação, o processo é simples e depende exclusivamente da decisão dos prefeitos e secretários de saúde. “Não há trabalho, dificuldade, obstáculo ou impedimento. O que falta é priorizar a repactuação como política pública da microrregião”, afirmou.

A vereadora Maria Prisca (PT) destacou que, apesar da proximidade de Ponte Nova, muitos preferem viajar até Muriaé em busca de um tratamento mais humanizado, que ela própria acompanhou. Defendeu que a prioridade deve ser a qualidade do atendimento, e não apenas a distância, e se colocou à disposição para lutar pela retomada da pactuação.

Cláudio Belo, vice-prefeito de Araponga, cobrou que prefeitos e secretários assumam responsabilidades e cumpram suas promessas de priorizar a saúde, defendendo a repactuação com a Fundação Cristiano Varella. Belo afirmou que Ponte Nova ainda não tem estrutura adequada para atender a microrregião, mas pode reassumir no futuro. Finalizou esperando que esta seja a única audiência necessária, mas, se houver outras, que haja ainda mais engajamento da população e lideranças.

Polyanne Aparecida Pereira Caetano, secretária de Saúde de Cajuri e enfermeira, compartilhou sua experiência pessoal com a mãe, que foi paciente da fundação, destacando o cuidado excepcional, incluindo atividades como visitas dos Doutores da Alegria, músicas e orações que proporcionavam conforto. Polyanne ressaltou o orgulho de um tratamento tão qualificado oferecido pelo SUS e, em nome dos moradores de Cajuri, apelou pelo retorno do atendimento oncológico em Muriaé, afirmando falar não só como profissional ou filha, mas como representante da população que clama pela retomada da parceria com a fundação.

O vereador Josimar Ancelmo Teixeira, de Canaã, afirmou ter participado da audiência pública com outros quatro vereadores para representar a população e lutar pelo retorno da pactuação, destacando que essa luta não deveria ser necessária, pois a saúde é dever do Estado e dos municípios. Ele criticou autoridades que permanecem inativas diante da situação e reforçou que o foco não é técnico ou logístico, mas garantir o melhor para a população, defendendo a retomada do atendimento oncológico em Muriaé como a melhor opção para os pacientes da região.

A vereadora Lilia Eva da Silva Coelho, de Pedra do Anta, defendeu que o debate sobre o atendimento oncológico ultrapassa a política e envolve dignidade, sobrevivência e respeito à vida, destacando as dificuldades enfrentadas pelos pacientes da microrregião desde a transferência do tratamento para Ponte Nova. Lilia criticou burocracias e disputas políticas que travam soluções, e cobrou esclarecimentos sobre a necessidade de consenso entre todos os municípios ou decisão pela maioria para a retomada da pactuação com a fundação.

Em seu pronunciamento final, o deputado estadual Grego da Fundação afirmou que a decisão de transferir os serviços de Muriaé para outro centro de referência partiu exclusivamente dos secretários de Saúde da microrregião, sob orientação dos prefeitos, e não do Governo de Minas.

Segundo o parlamentar, a deliberação ocorreu em reuniões do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde (Cosems), em 2023, e contou com o consentimento tácito dos representantes das nove cidades envolvidas: Viçosa, Paula Cândido, Teixeiras, Araponga, Canaã, Cajuri, Porto Firme, Pedra do Anta e São Miguel do Anta.

Grego destacou que, apesar das justificativas logísticas usadas por alguns gestores, como a distância entre cidades, o argumento da economia não se sustenta. “Quem já fazia tratamento em Muriaé continua sendo atendido lá. Agora, novos pacientes têm de ser encaminhados a outro centro, e isso, muitas vezes, exige até mais veículos da prefeitura”, criticou.

O deputado ainda apresentou vídeos de reuniões que, segundo ele, comprovam a aprovação da mudança por parte dos secretários municipais. “Se algum secretário alegar desconhecimento, é porque foi, no mínimo, incompetente para exercer o cargo naquela ocasião”, declarou.

Ao final, Grego afirmou que o retorno do atendimento à FCV depende apenas da vontade dos prefeitos. “Eles precisam autorizar os secretários a pautar o tema nos conselhos municipais de saúde e no Cosems. Se houver essa vontade política, a mudança pode ser revertida rapidamente”, garantiu. Ele ainda prometeu levar essa mensagem a todas as cidades da microrregião, se convidado.

Ao final da audiência pública, os presentes assinaram uma carta de manifesto exigindo a retomada do atendimento oncológico em Muriaé. No documento, os gestores expressam insatisfação com a atual referência oncológica em Ponte Nova, apontando dificuldades de acesso, aumento no tempo de deslocamento, custos adicionais para pacientes e seus acompanhantes, além do comprometimento da continuidade e integralidade do tratamento, contrariando os princípios do SUS.

A carta defende a capacidade técnica e a excelência da FCV e reforça que a mudança de pactuação tem gerado prejuízos aos usuários do sistema de saúde e às prefeituras. Os signatários pedem formalmente que os prefeitos revejam o ato administrativo que alterou a referência e restabeleçam, em diálogo com os municípios, o atendimento por meio da Fundação Cristiano Varella.

Fonte: CMV

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